terça-feira, 17 de setembro de 2013

A Grandeza do Bem


Conforme as portas maciças de sala de guerra se abriam, Gideon Jura podia sentir a energia atingindo-lhe como uma onda de calor de uma fornalha. Não era um calor real, mas algo como um vento enérgico que passava através de seu corpo, como uma onda de choque. Por um segundo, ele foi pego de surpresa por aquele poder. Ele já havia estado perto de muitos anjos ao longo de sua vida, mas aquele em particular possuía uma aura de magnitude maior do que qualquer outro que ele tinha encontrado.
 
Um sorriso rápido atravessou o rosto da mago da Legião Boros que acompanhava Gideon enquanto caminhavam para a câmara. A escolta realizou a saudação Boros e anunciou: "Mestra, Gideon Jura está aqui para vê-la." Ele, então, curvou-se e saiu.

Aurélia olhou para cima de uma mesa de aço gravada com símbolos e repleta de torres e edifícios em miniatura cobrindo a sua superfície, mas Gideon não conseguia tirar os olhos da regente da Guilda Boros. O cabelo, os olhos, a armadura... tudo dela parecia brilhar como o ar subindo fora do horizonte ensolarado. Gideon não era capaz de distinguir se havia pequenos vórtices de energia ao redor dela ou se era um tipo de escudo mágico que pairava ao seu redor.
Ele percebeu que ela estava lhe encarando.
 
"Mestra da Guilda...", disse ele, colocando a mão sobre o peito e curvando levemente a cabeça.

"Gideon Jura". Sua voz era poderosa, com uma qualidade de outro mundo. "Seu sotaque, vestimentas e até mesmo o seu nome denunciam que você não é deste Distrito. Ainda assim... eu fui informada de que você salvou uma brigada inteira de meus Boros de uma emboscada armada pelos Rakdos que teria matado cada um deles. "
 
"Eles estavam bem treinados para o combate. Apenas mostrei-lhes onde atacar e quando."

"Quanta modéstia." Aurelia sorriu. "Mas eu acho que é seguro dizer que você fez algo deveras marcante." Aurélia moveu-se ao redor da mesa e ficou de pé diante de Gideon. "O que me intriga, Jura, é o motivo pelo qual eu nunca havia ouvido falar de sua habilidade em batalha até agora. Tenho a sensação de que alguém como você não é capaz de acovardar-se e fugir da glória da batalha."
 
"Eu não sou daqui, Mestra. Costumo viajar por muitos lugares."

Aurélia considerou a resposta de Gideão com uma mistura de curiosidade e indiferença angelical, mas Gideon podia ver sua mente trabalhando.
 
"Justo". Ela redobrou suas asas e indicou os edifícios em miniatura sobre a mesa. "Você sabe que esse lugar é este?"

"Não", disse Gideon.
 
"Este é o Nono Distrito." Aurélia colocou a mão em um pequenos edifícios. "É na fronteira dos Cem Passos. A gleba dos Azorius. Naturalmente, aquela guilda nunca explorou aquele solo e suas propriedades... este tipo de assunto nunca foi o foco do interesse dos Azoris. Alguns pequenos grupos de Rakdos e Gruul instalados nos arredores ocasionalmente demonstravam interesse pela criação de animais. Ou talvez estivessem apenas tentando entender porque alguns agentes Dimir circulavam por aquele território."
 
Gideon olhou para os puros e límpidos modelos de construção, mas ele imaginou a situação real das pessoas que tentam existir pacificamente dentro de uma zona de guerra. "Então, é uma contestada relva. Os inocentes que vivem lá devem estar pagando um preço muito alto."
 
"Exatamente", disse Aurélia com pesar em seu tom. Ela olhou para Gideon. "Os inocentes sempre pagam o preço mais alto. Gostaria muito de ir para lá com alguns Elementais das Brasas e queimar todos os últimos Rakdos, Gruul e Dimir, mas os ravnicianos sem-guilda têm vivido há séculos em relativa paz. Antigamente, costumava ser um local exclusivo dos Azorius. Mas quando o velho Pacto das Guildas foi quebrado..." Aurélia parou por um momento. "Bem, eu não vou te aborrecer com uma lição de história, Jura, mas, na sequência, o Senado Azorius teve que abandonar o nono distrito para concentrar-se na a construção de Nova Prahv. Como de costume, uma região Desguarnecida tornou-se alvo de ataques de bandidos Rakdos e selvagens Gruul. Grande parte daquele local estava sentenciado à decadência. "
 
"E onde os Boros se encaixam em tudo isso?"
 
"Eu não estava na liderança naquela época." A resposta de Aurélia assemelhava-se ao toque de aço frio nos nervos de Gideon. "Fomos conduzidos de forma patética. Vi trechos vergonhosos durante nossas campanhas, sobretudo com relação ao Nono Distrito. Foram perdas e erros imperdoáveis... mas que serviram para nos forçarem a mudar... na liderança da guilda, principalmente. Perdoe-me, Jura. Ainda posso sentir o gosto amargo daqueles momentos. Porém, deixe-me mostrar-lhe uma coisa."
 
Aurélia fez um gesto para Gideon acompanhá-la através do chão de mármore polido do grande Saguão de Guerra até uma alta sacada de onde era possível visualizar toda a Morada do Sol. O ar tinha um cheiro fresco e límpido. Os olhos de Gideon ajustaram-se à luz solar intensa. Muitos metros abaixo, legiões de cavaleiros treinados e marchavam sob o sol brilhante, enquanto bandeiras e estandartes Boros balançavam com a brisa. Era uma visão gloriosa.
 
Depois de contemplar a magnitude da Morada do Sol e de seus exércitos, Aurelia falou: "Eu não posso desfrutar totalmente da ordem, Jura. Não enquanto eu souber que existem pessoas inocentes deixadas para trás no Nono Distrito para suportar a miséria, a injustiça e a opressão." Ela olhou para Gideon. "Jura, aquele Distrito é uma mancha em Ravnica, uma mancha nos Boros e uma mancha em minha alma. Eu desejo purificá-la."
 
"E você quer que eu lhe ajude?"

"Não, Jura, eu quero que você lidere." Aurélia virou-se e colocou a mão em seu ombro, uma mão que se fez sentir muito mais pesada do que Gideon esperava. "Reconheço um líder quando vejo um. Você tem grandeza dentro de você."
 
Ela apontou para uma centena de soldados de armaduras reluzentes que estava no pátio central. "Estou preparada para dar-lhe o comando daquele batalhão ali, se você vai lutar conosco. Ou melhor ainda, se você se juntar a nós." O poder irradiou do rosto de Aurélia à medida que ela fixava seus olhos em Gideon.
 
"O batalhão é meu, mesmo se eu optar por não me juntar à Legião Boros?", perguntou Gideon.

O rosto de Aurélia permaneceu implacável, mas ela hesitou antes de responder.
 
"Sim, Jura. Mas o comando será meu. Entendido?"
 
"É claro." Gideon sentiu um senso de dever e lealdade à Mestra da Guida pulsar dentro de seu peito. Com soldados assim, montanhas poderia ser movida.
 
Mas Gideon tinha visto algo muito pior do que a situação do Nono Distrito em suas viagens. Algo até mesmo pior que o Profanador poderia reunir para assolar uma área de guerra.

Ele tinha visto um mundo prestes a ser devorado.

Mas, mesmo com Zendikar enfrentado horrores extraplanares, as ruas de Ravnica fervilhava de inocentes apanhados no fogo cruzado entre guildas. Além disso, um pequeno grupo de rebeldes conhecidos como "os sem-portão", pois não pertenciam a nenhuma guilda, tentam iniciar uma insurreição devido à descrença no atual Pacto das Guildas. E agora, Gideon era necessário aqui. Com a ajuda de Aurélia, ele poderia salvar inúmeras vidas.
 
Ciente dos perigos de agir sob ordens de alguém, ele assumiu a responsabilidade de lutar. No entanto, não estava pronto para se tornar um membro da Legião Boros. Estava pronto apenas para empunhar suas armas por um bem maior.

Gideon, o campeão da justiça, fitou o mapa do Nono Distrito que estava sobre a mesa e sorriu como um lobo ao dirigir a palavra novamente para Aurélia: "Quando vamos começar?"
 

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