sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Consciência Corrompida


A sala do trono está inesperadamente silenciosa. Como sempre o ar é quente e terrivelmente denso para qualquer um que se aventurasse dentro da câmara. É meio-dia, apesar da luz dos cinco sóis nunca alcançarem este lugar muito abaixo da superfície de Mirrodin. Logo, a sala do trono estará cheia deles procurando por audiências com Ele, seu rei sem coroa. Os assistentes Dele se apressa em organizar o local, fazerem listas, suavizar egos e limpando os vestígios daqueles que violaram as leis.

Durante todo o tempo, sua voz ficava zumbido... algumas vezes inescutável, algumas vezes reveladora. Sua voz repercutira pelas paredes de metal em um ritmo constante até explodir em gritos de lamentos. Isso normalmente deixava os seres menores em pânico. Mas aqueles de níveis e inteligências superiores sorririam se eles tivessem lábios, abençoados por estarem na presença de tamanha sabedoria consumada. Sabedoria que logo encontrara seu caminho no cânon das escrituras. Escrituras que logo serão pronunciadas pelos lábios de milhares que nada conhecem sobre a perfeição que os aguarda.

Se somente Ele dissesse a palavra certa. Dê as ordens. (Ele já disse isso hoje? Ele já deu sua benção?) Dê as ordens; nós estávamos esperando por gerações... Ou, assim parece para os da sala do trono. Dê as ordens e finalmente começará.

Todos estavam esperando. Será este o dia? Mas agora, a sala do trono esta inesperadamente silenciosa. E Ele, aquele que foi designado para liderá-los esta decididamente sozinho.

Quem sou eu? - A voz dele murmura de seu massivo peito. - Que lugar é esse?

Seus olhos piscam rapidamente, como se fosse espantar as sombras da sua mente. Os assistentes dele estão ausentes. Não há ninguém para presenciar sua lucidez... ou será loucura? Se não há ninguém lá para decidir, para escrever ou para catalogá-la como a Verdade... será que isso importa, afinal de contas?
Quem sou eu? Quem sou eu? - Ele lamenta mais e mais, como uma criança entediada. Até que sua Meia-Mente se torna petulante e para sua cantinela irritante. “Isso é quem você foi”, sua Meia-Mente o lembra, “E quem você se tornará.”

“E quem era esse? Quem eu fui?” - Ele sussurrou para si mesmo, mas não houve resposta.

“Não responda E, veja se eu me importo.” - aquela voz dele trovejou na câmara vazia, ou seria apenas no interior da sua cabeça?
 
Diga-me em vez disso: Quem eu me tornarei?”

Alguém riu ironicamente. Alguém chorava com lamento, mas uma vez que ele estava sozinho, não devia ser ele próprio?

“Você foi uma testemunha por milhares de anos. E agora seu momento chegou! Salve o novo Pai das Maquinas!!!”

Mas espere, talvez não seja tão claro assim. Esta não é a velha Phyrexia, unida debaixo da megalomaníaca bandeira de Yawgmoth, cuja vontade percorria seus asseclas como se fossem extensões físicas de suas maquinações inspiradoras. Esta é Nova Phyrexia renascida do óleo carregado através do aether, trazida aqui pelo golem de prata, e se enraizando profundamente no abismo de sua própria criação: Mirrodin.

Milhares de anos... - o golem murmurou para o silêncio. - Tantas perdas. Onde mais esta minha sombra apodrecendo? Quais outros planos se tornaram colméias assassinas em meu despertar.

“Você é o Pai das Maquinas!” - Sua Meia-Mente se infurece com seu lado fraco. - “Cada sílaba que você pronuncia nos servirá de direcionamento. Diga a palavra e nós corrigiremos este mundo áspero e indigno. Escute agora, a batida na porta. Hoje é o dia, irmão.”

Certamente uma batida ecoa através da câmara e o golem levanta seus olhos cansados. Somente sua cabeça se move agora, e talvez um dedo. O resto dele se fundiu ao trono. O resto dele se tornou parte do núcleo ao redor dele.

Irmãos... como Urza e Mishra? - O golem trovejou para ele mesmo enquanto a porta da câmara se abria e seus assistentes solenemente entravam. “Urbog sucumbiu, seu tolo. Haverão abismos de tempo, mas eu estou perdido dentro deles. ”

Olhos lacrimejantes dentro de porcelanas brancas o sondam. Pena arranha um rosto maleável. O assistente chefe avança em direção à Ele, uma criatura com um nome que soa mais como vidro se estilhaçando. Ele é esperto, não um desmiolado como outras criaturas que espreitam a câmara. Os desmiolados permaneceram na luz, pelo menos. Foram esses que se mantiveram à beira das sombras que se tornaram os verdadeiros donos do poder. Esses foram aqueles que se precaveram. Eles falaram com polidez impecável enquanto ordenavam seus subordinados a esfolar a pele de seus inimigos.

“Lembre-se: este é NOSSO trono...”, sua Meia-Mente sussurrou para ela mesma. “Estam são nossas máquinas. Máquinas perfeitas.”

Meu mundo era perfeito antes. - o golem replicou.

“Você não sabia o que perfeição era. Nós, juntos, transpassamos a barreira da matemática.”

Vamos! - O golem de repente gritou. Ninguém se moveu. - Você! Traga-os aqui. Todos aqui! Agora!!!

Mas senhor... - O assistente-chefe protestou. - Haverá fúria contra essa injustiça. Alguns têm esperado por dias. Nós devemos observar o protocolo.

Morte. MORTE! - O golem declarou.

Os assistentes consultaram um ao outro. - Sim, isso poderia resolver o problema. - eles concordaram... - Um líder de cada comitiva irá fazê-lo.

Os assistentes rapidamente arrumaram o abatedouro para que sucedesse do outro lado do salão e permitiram a entrada dos mestres, que esperavam dentro da câmara, finalmente por uma audiência com o Golem de Prata.

Os dois phyrexianos era de níveis inferiores: o sub-sarcedote e chanceller Nor e um arquivista de Thane Kraynox. Eles não estavam felizes por verem o golem juntos, pois cada um tinha seu próprio agendamento.

Obrigado por ver este humilde servo. Eu trago más noticias. - disse o sub-sacerdote.

Nós também trazemos infelizes noticias para você. - disse o arquivista de Kraynos.

Os mirranianos sentiram que alguma coisa está errada. - o sub-sarcedote de Nor alertou -Eles estão organizando. Isto não é ameaça para o Grande Ideal, certamente, mas nossas estratégias podem ser perturbadas se nós não agirmos.

Jin-Gitaxias não acredita em você! - o arquivista disse sem rodeios. - Ele não é fiel como Thanes, que adora vossas abençodas palavras. Pior ainda, há relatórios de estranhos seres se materializando no interior da fortaleza de Geth!

“Redenção” - o golem meditou.

Nós descobrimos que há espiões ouvindo dentro de sua sala do trono. - O arquivista continuou. - Espiões de Jin-Gitaxias monitorando tudo que respira dentro dessa sala.

Norn implora que você suba a superfície agora. - Disse o sub-sarcerdote de Norn. - Não há melhor tempo para decapitar o corpo dos hereges e conduzi-los ao redil.

“Pare de se flagelar!” - sua Meia-Mente pensou furiosamente consigo mesmo. - “É impróprio para o Pai! Tome as decisões e livre-se dos seus patéticos grilhões.”

Jin-Taxias não acredita em você. - o arquivista chiou. - Ele espalhara mentiras sobre você entre os pretore para colocar um falso líder no seu lugar. Você corre risco, especialmente se você não mostrar ação decisiva.

Nisto, Norns concorda! - o sub-sacerdote acenou com a cabeça em sinal positivo. - Ela serve a você sem hesitar. Mas ela não pode esperar mais. Certamente os mirranianos não são ameaça para você, mas seria melhor anular os infiéis e colher o que e útil.

Nós estamos em raro acordo. - o arquivista disse. - Nós te imploramos, ó glorioso. Dê-nos apenas uma palavra!

Todo esse tempo enquanto seus visitantes estiveram falando, o Golem de Prata estivera calado. Todas aquelas palavras que significavam nada em linguagem alguma. Mas, quando o arquivista terminou, a sala inteira se encheu de silêncio enquanto esperava-se a resposta.

Ele olhou para o céu, olhando para tudo e, ao mesmo tempo, para o nada. Sua boca se abriu e rosnou: Ofensa!
 
O sub-sacerdote e chanceller de Nor e o arquivista de Kraynox se entreolharam com súbita surpresa. Debaixo de Lumengrid, os espiões que monitoravam a sala do trono comunicaram-se através de mensagens entre eles. Sim, eles tinham escutado tudo. Finalmente, era era a a ordem. A esperada e gloriosa guerra podia começar!

Curvando-se e saindo o mais rápido que eles podiam, todos se apressavam para relatar as esplêndidas novidades para seus superiores. Logo, a sala do trono estava inesperadamente silenciosa... e Karn estava novamente sozinho, com sua mente estilhaçada e desequilibrada, completamente inconsciente do que ele tinha liberado sobre a superfície do seu mundo.

Ofensa... - o golem sussurrou outra vez. - Eu cometi a mais grave das ofensas!


Nenhum comentário:

Postar um comentário